quarta-feira, 24 de novembro de 2010

O éter das palavras

Escrevo cartas que sei que nunca as enviarei.
E continuarei a escrevê-las.
Escrevo palavra-a-palavra o silêncio e redefino-o tão veementemente, que se torna ensurdecedor.
Encantoo-me num labirinto de palavras: consumo-as lenta, lasciva e avidamente até à última sílaba. Tal como um orgasmo feminino e exacerbado.
É o meu concubinato assexuado. Uma relação inextrincável e delico-doce entre a comiseração de cada vocábulo e a volúpia.
O temor de uma página em branco é acirrante – a sodomia lúgubre que afugenta as virgens de pele rosada pela ofegante respiração: a tentação.